O inverno havia chego cedo naquele ano. Ela já havia se cansado de esperar, queria deixar-se consumir pelos demônios de dentro. Cansara-se de tudo. O inverno chegara tão cedo naquele ano, era como se ainda estivesse no outono, vendo as folhas secas caírem das árvores e o dia desfalecer pela janela do quarto. Sentia falta da companhia dele. Como se pode ficar tão distante, mesmo estando tão perto? Por mais que sofresse com aquilo tudo, ainda era orgulhosa o bastante para não se redimir."Ele que se desculpe!" pensava ela, enquanto se sentavam a mesa para tomar o café da manhã. Ela, no entanto, nem prestava atenção se comia alguma coisa ou não, mantinha os olhos fixos nos dele. Mas o olhar dele era vazio... atravessava-a, como uma faca. Perfurava-lhe a alma. Passara boa parte das tardes de inverno sentada no balanço, nem se importando com o frio, com a neve, alva e límpida, um branco tão ofuscante e tão belo. A árvore do balanço guardava suas próprias lembranças, as tardes de outono em que ele lia pra ela, ao pôr do sol, banhando-se numa chuva de folhas secas. O tempo a deixara para trás, deixara-a naquelas lembranças, pois a pessoa que estava ali não era ela.
Os dias se arrastaram por semanas silenciosas, sem uma palavra dele. Naquele momento, seu orgulho já havia quebrado, estava começando a desesperar-se. Como ele conseguia? Ela havia tentado gritar, falar e chorar, e mesmo assim, ele parecia não enxergá-la, tinha apenas o mesmo olhar perfurante.
Pensou diversas vezes em deixa-lo, mas sentia que não podia, como se uma parede invisível a impedisse de sair. Seu amor era mais forte que seu orgulho, ela respirava por aquele homem, sorria, vivia e morreria se preciso. Ele era a única razão pela qual ela sempre se manteve estável e intacta, sem ele, ela sentia que iria quebrar a qualquer instante. Não podia perde-lo daquela forma, não aguentava vê-lo desaparecer no vazio daquele silêncio, nas sombras da pessoa sorridente e feliz que ele era... o inverno demorou mais do que o normal para passar... "ninguém deveria ficar sozinho no inverno...", pensava ela, vendo a manhã fria escapar pela janela... dormiu...
Quando acordou, não deveria ser inverno, mas o ar frio e a manhã acinzentada preencheram seus pensamentos, os embranqueceram. Andou descalça pela casa, tocando de leve os móveis e as paredes com a ponta dos dedos enquanto caminhava. Pela porta, pode vê-lo no balanço, segurando algo... algo do qual seus olhos não conseguiam se fixar, portanto, considerou desnecessário. Avançou descalça pela neve alva e parou atrás dele, abraçando-o pelas costas.
"Por que você está tão longe? Por que foge de mim?" - disse ela, encostando o rosto em seus cabelos. Mas não obteve resposta, como já esperava.
"Você não pode fugir de mim para sempre, você não pode fugir da sua alma gêmea... lembra-se? Mesmo esse silêncio não é o bastante para me afastar de você, nada vai me fazer te perder, nem mesmo esse inverno sem fim do qual nos prendemos." - Desta vez sua resposta veio em lágrimas, acompanhadas de um choro baixo e sufocado. O que havia acontecido? Por que as lágrimas?
- Por que você fez isso? - sussurrou ele, olhando para a alvidez da neve - Você sempre foi tudo para mim, sua presença iluminava os meus dias... você guiava minha alma no escuro... mas agora... agora nada mais me resta... eu perdi tudo...
"Eu ainda estou aqui... por você e para você, eu te amo, e sempre vou te amar... você sempre terá a mim... esqueça o passado, esqueça esse mundo de caos, de agonia e morte... éramos felizes, só nos dois..."
- Você não cumpriu sua promessa, você a despedaçou... assim como despedaçou minha alma... esses dias... sinto como se tivesse você... mas não tenho... nunca mais... Anne... Anne... - sua voz sumia cada vez mais, desaparecendo em meio ao choro. Levantou-se de repente derrubando uma pequena caixa que segurava - Por que você tinha que ter dirigido naquela noite?!
"Eu sei que estraguei tudo... você perdeu o emprego por causa daquele acidente, muitos começaram a evitar você... então viemos para este lugar... no meio do nada... tivemos momentos tão felizes aqui. É o nosso lugar, perdido de tudo e todos... só tem eu e você aqui... não fuja de mim... não me culpe... sei que você perdeu tudo, mas você ainda tem a mim... eu nem me machuquei naquele dia... mas me dói muito cada vez que você me olha desse jeito... com esse olhar frio..."
- Anne... sinto muito por tudo o que fiz... sinto muito por não ter dito nada a você... que o meu silêncio seja meu castigo... minha eterna punição, por não ter dito o quanto te amo... o quanto você é importante para mim... minha existência, meu vínculo com este mundo... e agora...
"Jake... eu estou aqui para você... estou..." - suas palavras se perderam em sua boca. No chão, havia uma pequena caixa de papel aberta. Dela caíam, cartas, fotos e uma aliança. A mesma que ela usava naquele instante. A mesma que havia sido passada de gerações pela sua família. Naquele momento, então, percebeu tudo. A neve, o inverno sem fim. O silêncio.
Jake ajoelhou-se para apanhar o conteúdo da caixa, levantou-se mas tropeçou e caiu de joelhos. Chorava alto e soluçante.
- Por que você me deixou Anne? Por que você foi embora e me deixou nesse mundo vazio? Por que não importa em que estação estamos... sem você... para mim será sempre inverno...
Ela ajoelhou-se junto a ele e o abraçou forte. Naquele momento desejou mais do que nunca que ele soubesse que ela estava ali, que sempre esteve e sempre estaria ao seu lado, pois era sua alma gêmea. O corpo pode morrer, a mente pode se apagar, mas o amor de uma alma é eterno... não importa o quanto aquele inverno durasse... ela ainda estaria ali, ao lado dele... esperando o frio acabar...
Quando acordou, não deveria ser inverno, mas o ar frio e a manhã acinzentada preencheram seus pensamentos, os embranqueceram. Andou descalça pela casa, tocando de leve os móveis e as paredes com a ponta dos dedos enquanto caminhava. Pela porta, pode vê-lo no balanço, segurando algo... algo do qual seus olhos não conseguiam se fixar, portanto, considerou desnecessário. Avançou descalça pela neve alva e parou atrás dele, abraçando-o pelas costas.
"Por que você está tão longe? Por que foge de mim?" - disse ela, encostando o rosto em seus cabelos. Mas não obteve resposta, como já esperava.
"Você não pode fugir de mim para sempre, você não pode fugir da sua alma gêmea... lembra-se? Mesmo esse silêncio não é o bastante para me afastar de você, nada vai me fazer te perder, nem mesmo esse inverno sem fim do qual nos prendemos." - Desta vez sua resposta veio em lágrimas, acompanhadas de um choro baixo e sufocado. O que havia acontecido? Por que as lágrimas?
- Por que você fez isso? - sussurrou ele, olhando para a alvidez da neve - Você sempre foi tudo para mim, sua presença iluminava os meus dias... você guiava minha alma no escuro... mas agora... agora nada mais me resta... eu perdi tudo...
"Eu ainda estou aqui... por você e para você, eu te amo, e sempre vou te amar... você sempre terá a mim... esqueça o passado, esqueça esse mundo de caos, de agonia e morte... éramos felizes, só nos dois..."
- Você não cumpriu sua promessa, você a despedaçou... assim como despedaçou minha alma... esses dias... sinto como se tivesse você... mas não tenho... nunca mais... Anne... Anne... - sua voz sumia cada vez mais, desaparecendo em meio ao choro. Levantou-se de repente derrubando uma pequena caixa que segurava - Por que você tinha que ter dirigido naquela noite?!
"Eu sei que estraguei tudo... você perdeu o emprego por causa daquele acidente, muitos começaram a evitar você... então viemos para este lugar... no meio do nada... tivemos momentos tão felizes aqui. É o nosso lugar, perdido de tudo e todos... só tem eu e você aqui... não fuja de mim... não me culpe... sei que você perdeu tudo, mas você ainda tem a mim... eu nem me machuquei naquele dia... mas me dói muito cada vez que você me olha desse jeito... com esse olhar frio..."
- Anne... sinto muito por tudo o que fiz... sinto muito por não ter dito nada a você... que o meu silêncio seja meu castigo... minha eterna punição, por não ter dito o quanto te amo... o quanto você é importante para mim... minha existência, meu vínculo com este mundo... e agora...
"Jake... eu estou aqui para você... estou..." - suas palavras se perderam em sua boca. No chão, havia uma pequena caixa de papel aberta. Dela caíam, cartas, fotos e uma aliança. A mesma que ela usava naquele instante. A mesma que havia sido passada de gerações pela sua família. Naquele momento, então, percebeu tudo. A neve, o inverno sem fim. O silêncio.
Jake ajoelhou-se para apanhar o conteúdo da caixa, levantou-se mas tropeçou e caiu de joelhos. Chorava alto e soluçante.
- Por que você me deixou Anne? Por que você foi embora e me deixou nesse mundo vazio? Por que não importa em que estação estamos... sem você... para mim será sempre inverno...
Ela ajoelhou-se junto a ele e o abraçou forte. Naquele momento desejou mais do que nunca que ele soubesse que ela estava ali, que sempre esteve e sempre estaria ao seu lado, pois era sua alma gêmea. O corpo pode morrer, a mente pode se apagar, mas o amor de uma alma é eterno... não importa o quanto aquele inverno durasse... ela ainda estaria ali, ao lado dele... esperando o frio acabar...
escrito por El Matador